4800 milhões de euros até 2015.
Porquê?
Para reduzir o défice falhado, à conta de uma política de terra queimada.
Quem e o quê atingir?
Lóbis?
Não. Os mesmos, “porque os sacrifícios valem a pena”, diz Passos.
Funcionários públicos e reformados na mira. Os primeiros têm
salários reduzidos desde 2011 e carreiras congeladas desde 2010. Os
primeiros e os segundos diabolizados como um peso, já expropriados em
duas remunerações em 2012.
Acabar com o Estado, emagrecer essa coisa cara, a justificação
atirada para o memorando “mal desenhado” e revisto sete vezes pelo
Governo, que só falando com os credores, primeiro decide as ofensivas e
depois fala com a ralé disponibilizando-se para o “diálogo”, para o
“consenso” sobre uma bíblia já escrita.
Mentir desde o primeiro dia. Prometer e desfazer. Matar a prestações,
esse método do engano, da deslealdade: o povo é acautelado, diz-se às
pessoas que vamos ter medidas temporárias, nada que acabe com as suas
expetativas. Lembram-se? Foi logo no início da governação da direita que
manobra reformas e pensões no ministério das finanças, porque esses
direitos transformados em “despesa” nada têm de social. Depois, quando a
malta até “aguenta, aguenta”, porque era para um amanhã próximo, lá
chega novo anúncio, teve de ser, assim, a mentira descarada que desfaz
cada plano de vida traçado com o que foi prometido, anunciado, e enfim
roubado.
Consenso, pois. Essa palavra dita por quem, sendo amoral, tudo fez
para dividir a sociedade: uma luta para que jovens vejam nos velhos os
inimigos; uma luta para que trabalhadores privados vejam nos
funcionários públicos o inimigo; uma luta para que os reformados se
dividam entre os acarinhados de tão pobres e o inimigo, os safados que
têm reformas e pensões que começam em loucos 1300 euros; uma luta para
que a inimiga da recuperação seja a Constituição, esse texto que nos
libertou da perversa e semântica constituição de 1933.
Esta direita não pode falar em consenso, quando é ela própria o dissenso por dentro e para fora.
Não foi estranho Passos não falar no “pormenor” do desemprego.
Desemprego implica a relação da palavra com pessoas concretas.
Anunciando Passos o “apagão” de 30 mil funcionários públicos, depois de
percorrido um longo caminho doutrinário para que se esqueça que cada
funcionário público é, imagine-se, uma pessoa, seria estranho falar num
deliberado aumento do desemprego.
Nada espero do CDS, que sabe que não temos funcionários públicos a
mais, que sabe que precisamos dessas pessoas; nada espero do CDS, que
sabe da falácia de se anunciar um roubo aos pensionistas com a
adversativa da “salvaguarda das pensões mais baixas”, esse nojo retórico
equiparável a um “vamos recuperar a pena de morte, mas não se aplicará a
crimes pouco graves, naturalmente”, sim, porque há aqui uma lógica
punitiva com “perdões especiais”.
Nada espero do CDS, que sabe que no atual contexto aumentar a idade de reforma fura expetativas e causa mais desemprego.
Este Governo não tem legitimidade de exercício, para usar uma
categoria de Bártolo (para informação do Governo, trata-se de um
jurisconsulto que viveu no Século XIV, e não de um funcionário público).
in: Aspirina B
in: Aspirina B