Um Salazarista nas Jornadas do PSD


Vale a pena ler a notícia da semana passada do DN sobre a intervenção de César das Neves nas jornadas parlamentares do PSD, em Santarém. Por companhia de leitura, inevitavelmente, a memória do olhar esgaziado com que este senhor normalmente se apresenta em intervenções públicas. Esta não foi exceção. O homem considera-se um génio e pensa que posa como tal. Não passa, porém, de um louco.
Para ele, nunca foi feito o suficiente, no Portugal democrático, para o regresso da escravatura. Ora, isso é não só uma pena como também está na base de todos os nossos problemas. Há pobreza, há desigualdades gritantes, mas isso é porque ainda existem pequenos constrangimentos na lei laboral (a que ele chama rigidez excessiva do mercado laboral) e salário mínimo, ouvi-o uma vez dizer. Acabava-se com essa modernice e era ver o desemprego a diminuir a uma velocidade que deixaria nosso senhor Jesus Cristo incrédulo. O homem é bem capaz de estar louco. Deseja, mas não o confessa, um segundo resgate para Portugal. Só para provar que tem razão.
Com o senhor Pedro Arroja, do Porto Canal, já são dois que, à partida, são levados a sério ao ponto de lhes pagarem para terem voz na comunicação social. Salazar é citado no fim, qual cereja no topo do bolo, mas numa tirada banal, só para dizer que também o ditador de Santa Comba Dão achava que vivíamos acima das nossas possibilidades. Conhece-se esta admiração por Salazar e compreende-se a citação, pois nunca é demais lembrar que dos pobres é o reino dos céus. A referência à estabilidade da moeda é, porém, confusa, ou então o jornalista também foi enlouquecendo.
Este homem, repito, é levado a sério pela comunicação social, apesar de nos obrigar a mudar de canal para não ficarmos como o jornalista.

in: Aspirina B