Não é vulgar um jornalista declarar publicamente a sua orientação ideológica. Muito menos assumir a sua pertença ou apoio a um partido político. Contudo, as pessoas mais expostas aos media, isto é, aqueles que acompanham, com regularidade as notícias, os debates e comentários nas rádios e nas televisões e, mais recentemente, a participação de jornalistas nas redes sociais, percebem as suas orientações político-ideológicas.
Evidentemente que a expectativa dos cidadãos é a de que os jornalistas sejam capazes de separar a sua ideologia e as suas preferências partidárias do seu trabalho profissional, já que o jornalismo é uma actividade que exige rigor, independência, imparcialidade e equidistância face a correntes ideológicas, partidos políticos e outros poderes, nisso se distinguindo de outros campos profissionais.
Ninguém exige a um jornalista que declare qual é a sua ideologia ou o partido com o qual se identifica, mas também ninguém o proíbe de o fazer. É raro um jornalista declarar publicamente a sua ideologia mas ainda há quem o faça. O director-adjunto do semanário Expresso, J0ão Vieira Pereira, reconhece que os seus textos falam por si:
“No é surpresa para ninguém. Defendo ideias facilmente identificadas com a direita. A verdade é que me considero um democrata-liberal. Contudo, e como nos últimos anos tivemos em Portugal um dos partidos mais liberais de que há memória, houve imensos aspetos que, mesmo sem me mexer, me atiraram mais para o centro. Só que o centro está outra vez a deslocar-se e a empurrar-me de volta para a direita. Até porque é claro para que lado António Costa está agora a pender. (…) (João Vieira Pereira, Expresso, 6-02-2016)
Um dos exemplos mais transparentes é este texto de Pedro Tadeu, ex-director-adjunto do Diário de Notícias:
“(…) Aqui há uns cinco anos informei os leitores desta coluna: sou militante do PCP. Não foi a primeira vez que o fiz. Todas as administrações, chefias e camaradas de redacção dos jornais e rádios onde trabalhei, desde 1983, foram informados desse facto (…)”. (Pedro Tadeu, DN, 29-12-2015)
Este sábado, o director do semanário Sol, Luís Osório, afirma que em Portugal não existe actualmente nenhum jornal com uma política editorial de esquerda, constatando que esse facto torna os jornais todos iguais, o que, em sua opinião, é prejudicial à democracia. É curioso que sendo o Sol um dos jornais mais próximos da direita portuguesa, o seu director assinale esse facto sem, pelos vistos, ter poder para equilibrar essa orientação.
As opções políticas e ideológicas dos jornalistas são, teoricamente, matéria da sua esfera pessoal. Porém, elas passam a ser uma questão de interesse público quando essas opções influenciam as suas escolhas profissionais, uma vez que ao seleccionarem e destacarem determinados acontecimentos em detrimento de outros, criam realidades usando critérios a que chamam “critérios jornalísticos”.
Por outro lado, os jornalistas não se limitam a reportar acontecimentos. Cada vez mais, dispõem de espaços em diferentes media, nos quais expõem abertamente os seus pontos de vista sendo estes, naturalmente, influenciados pela sua orientação ideológica. Os próprios meios de comunicação social reconhecem implicitamente que há jornalistas “de esquerda” e jornalistas “de direita” quando, nos painéis de “residentes”, procuram equilibrar os dois lados.
Ora, a orientação política e ideológica de um jornal, independentemente do facto de todos se afirmarem como pluralistas, é também determinada pela orientação dos colaboradores não jornalistas que são escolhidos pelas direcções. Dado o peso da opinião no sistema mediático português e o facto de os jornalistas com responsabilidades na hierarquia dos diversos media circularem de uns para outros, somos levados a concluir que Luís Osório tem razão: em Portugal os meios de comunicação social pouco se distinguem uns dos outros e situam-se maioritariamente à direita.