"Este texto não corre o risco de ser muito partilhado no Facebook e de circular na net por um ou dois anos. Não fala de motoristas, de viagens de ministros em primeira, de salários exorbitantes nem de pensões milionárias. Fala exactamente do contrário, da armadilha que esses emails e essas informações - muitas delas postas a circular pelo Governo - representam para os cidadãos.
Há dois anos, meio Portugal ficou feliz quando ouviu dizer que o primeiro-ministro ia passar a sentar-se na turística da TAP quando ia a Bruxelas. Bateu palmas quando soube que Assunção Cristas ia proibir as gravatas no Terreiro do Paço para poder baixar o ar condicionado. Festejou cada vez que o "Correio da Manhã" trazia uma lista de ordenados e pensões milionárias, mesmo que o conceito de milionário fosse próprio da Albânia. Rebentou de contentamento de cada vez que Miguel Relvas descobria uma fatura por pagar do Governo anterior.
Cada vez que uma notícia dessas saía, os portugueses pensavam que os seus problemas estavam a ser resolvidos. Se Passos ia em económica e Cristas só bebia água da torneira, se os Falcon ficavam parados nos hangares da Força Aérea e se Relvas divulgava quanto é que os realizadores sacavam ao Estado em subsídios e quanto é que ganhava a Catarina Furtado, a vida dos portugueses estava resolvida.
Há dois anos que critico publicamente essa demagogia pobrezinha. Pelas mentiras que esconde, pelos efeitos orçamentais que não produz e pelo engano em que envolve os portugueses. A demagogia pobrezinha não só tira toda a dignidade ao Estado e aos seus representantes, como não impedia nem adiava a mais dura das realidades: os impostos teriam que subir e os salários e pensões teriam que descer.
No mesmo dia em que a ministra da Agricultura chamava os jornalistas para mostrar os seus ajudantes sem gravata, ela sabia que os impostos iam aumentar brutalmente e as pensões cair. E sabia que o ar condicionado dela não valia um prato de lentilhas. O mesmo para Passos, Relvas e quase todos os ministros - Paulo Macedo e Crato não entraram muito neste campo - que divulgavam listas de motoristas e salários exorbitantes dos seus serviços.
Esta estratégia foi pensada e executada por Miguel Relvas. O mesmo ministro que se demitiu há uma semana mas que ainda está em funções. O mesmo ministro que sempre soube que até num Estado em que se afunda tem que haver pão e circo. E que mesmo quando não há pão, tem que haver circo. Ir ao Coliseu de Roma à borla ou partilhar textos com gastos do Estado é, na cabeça de Relvas, a mesma coisa. Na de muitos portugueses também. Partilhai e espalhai a mensagem."
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/este-texto-nao-e-sobre-motoristas-e-viagens-de-luxo=f799504#ixzz2Q9w6uSB0
Há dois anos, meio Portugal ficou feliz quando ouviu dizer que o primeiro-ministro ia passar a sentar-se na turística da TAP quando ia a Bruxelas. Bateu palmas quando soube que Assunção Cristas ia proibir as gravatas no Terreiro do Paço para poder baixar o ar condicionado. Festejou cada vez que o "Correio da Manhã" trazia uma lista de ordenados e pensões milionárias, mesmo que o conceito de milionário fosse próprio da Albânia. Rebentou de contentamento de cada vez que Miguel Relvas descobria uma fatura por pagar do Governo anterior.
Cada vez que uma notícia dessas saía, os portugueses pensavam que os seus problemas estavam a ser resolvidos. Se Passos ia em económica e Cristas só bebia água da torneira, se os Falcon ficavam parados nos hangares da Força Aérea e se Relvas divulgava quanto é que os realizadores sacavam ao Estado em subsídios e quanto é que ganhava a Catarina Furtado, a vida dos portugueses estava resolvida.
Há dois anos que critico publicamente essa demagogia pobrezinha. Pelas mentiras que esconde, pelos efeitos orçamentais que não produz e pelo engano em que envolve os portugueses. A demagogia pobrezinha não só tira toda a dignidade ao Estado e aos seus representantes, como não impedia nem adiava a mais dura das realidades: os impostos teriam que subir e os salários e pensões teriam que descer.
No mesmo dia em que a ministra da Agricultura chamava os jornalistas para mostrar os seus ajudantes sem gravata, ela sabia que os impostos iam aumentar brutalmente e as pensões cair. E sabia que o ar condicionado dela não valia um prato de lentilhas. O mesmo para Passos, Relvas e quase todos os ministros - Paulo Macedo e Crato não entraram muito neste campo - que divulgavam listas de motoristas e salários exorbitantes dos seus serviços.
Esta estratégia foi pensada e executada por Miguel Relvas. O mesmo ministro que se demitiu há uma semana mas que ainda está em funções. O mesmo ministro que sempre soube que até num Estado em que se afunda tem que haver pão e circo. E que mesmo quando não há pão, tem que haver circo. Ir ao Coliseu de Roma à borla ou partilhar textos com gastos do Estado é, na cabeça de Relvas, a mesma coisa. Na de muitos portugueses também. Partilhai e espalhai a mensagem."
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