Ouvi há pouco Pedro Silva Pereira, deputado socialista e ministro da Presidência no anterior Governo, a fazer uma declaração política no Parlamento sobre o Relatório do FMI conhecido ontem, que enfureceu os deputados do PSD e do CDS e levou Miguel Frasquilho e Nuno Magalhães a responderem com grande estardalhaço.
Sentado na primeira fila da bancada socialista, de rosto sereno e sem demonstrar qualquer emoção Silva Pereira ouviu as reacções, primeiro das bancadas da maioria e depois dos partidos à sua esquerda.
Quando chegou a sua vez de responder, foi um festival. O ruído vindo da maioria era ensurdecedor, a pontos de a Presidente várias vezes ter mandado calar as bancadas e dito a Silva Pereira que o tempo do ruído seria descontado na sua intervenção. À esquerda as reacções à resposta de Silva Pereira foram mais comedidas, apenas o PCP vociferava mas vistas na televisão as reacções deste não passavam de esgares.
A uns e a outros Silva Pereira respondeu imperturbável, sem se incomodar com as reacções que vinham das bancadas, as respostas fluiam soltas e imparáveis, os dados e os números na sua cabeça, a história recente bem viva na mente, tudo a sair-lhe da boca como flechas certeiras atiradas à direita e à esquerda. No final arrebatou aplausos da bancada do PS, enquanto os oradores da direita e da esquerda que o tinham atacado, ostentavam sorrisos amarelos.
E do que falou Silva Pereira?
Falou do relatório do FMI, era esse o tema da sua declaração. É melhor ver no link da imagem.
Mas o melhor foram ainda as respostas à maioria, ao PCP e ao Bloco. Silva Pereira lembrou ao PSD, que o acusava de “desfaçatez”, quando em abril de 2011, “contra os pareceres do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia”, o PSD recusou o PEC IV e abriu uma crise política em Portugal, que atirou para o lixo o ‘rating’ da República (onde ainda se encontra) e precipitou a crise política”. E lembrou ao PCP e ao Bloco que “o momento fundador do actual governo” foi o chumbo do PEC IV em que eles colaboraram e avivou-lhes a memória do momento em que, em 2011, perante o PEC IV, disseram que quem governava era o FMI e Pedro Silva Pereira lhes respondeu ali mesmo, na AR: “ainda não viram nada”!
Mas neste episódio parlamentar o que suscita reflexão é o facto de o PS dispôr de deputados com os conhecimentos e a preparação política de Silva Pereira e deixá-los nas filas de trás, dando palco a vozes menos experientes e sobretudo menos abalizadas a responder taco a taco à demagogia e à deturpação de factos da história recente.
Percebe-se porque é que a direita e a esquerda se irritam com Silva Pereira, com Sócrates e com outros que vêem lembrar coisas que eles querem esquecer. Os portugueses que não se revêem no actual governo e que desistiram de acreditar numa alternativa de esquerda incluindo os partidos à esquerda do PS precisam de vozes assim, firmes, informadas e sem medo do passado.