Durante o último mês muito se
falou de “mitos urbanos”. Os tais que Passos Coelho nunca tinha incentivado à
emigração, aumentado o IVA ou diminuido as prestações sociais.
No mesmo espaço de tempo e
imbuídos no espírito eleitoral que já nos assola, vários dirigentes do PSD e
CDS vieram a terreno agitar a recorrente “bandeira das 3 bancarrotas do PS”.
Ora neste caso, o mito da
bancarrota está bem vivo e como ninguém se dignou a explorar o tema, sugiro a
leitura do trabalho de Ana Bela Nunes (2010), The International Monetary Fund Stand-by Arrangements with Portugal
(ISEG) ou uma consulta exaustiva à página do FMI (www.imf.org).
Esta pequena observação serve
apenas para elucidar os mais incautos sobre a verdade dos factos e as
responsabilidades tripartidas de PS, PSD e CDS e não apenas de um único
partido.
Relativamente a 2011 a história é
conhecida. O Governo do PS solicitou oficialmente a ajuda externa, perante uma
situação da crise internacional - que hoje ninguém nega - aliado a um aumento
desmedido da dívida pública com origem nos sucessivos Governos, nomeadamente
desde Cavaco Silva até José Sócrates.
No que se refere aos outros dois
pedidos, confirma-se que Mário Soares, enquanto Primeiro-ministro, solicitou
formalmente auxílio financeiro. Mas esta versão carece de aprofundamento e de
verdade no sentido de ser mencionado que PSD e CDS também participaram nesses
governos.
Segundo o site do FMI, em maio de 78, Portugal pediu a primeira ajuda externa,
apesar de na monarquia, Portugal ter declarado insolvência por oito vezes –
seis em apenas vinte anos.
Este primeiro pedido, segundo o
FMI, surge devido à “debilidade económica que se vinha a sentir desde o tempo
de Marcello Caetano, agravada pela necessidade do povo ter acesso aos mais
elementares direitos” como a Saúde e Educação no período pós-revolucionário. A
par disto, o “Choque Petrolífero de 73-79”, a “diminuição das exportações para Africa”
e a imigração dos retornados, resultou numa situação explosiva em que o Governo
de Coligação PS-CDS teve que pedir auxílio.
O segundo pedido surge em outubro
de 83. Depois de 3 anos de governação de Sá Carneiro e Balsemão e com um défice
da balança corrente de 10,5% do PIB, Mário Soares forma governo de Bloco
Central (PS-PSD).
Passados 3 meses da tomada de
posse e face à situação de “endividamento externo, perda de competitividade,
défice excessivo e dívida pública” desde 1980 (governos da direita), aliada à crise
da dívida na América Latina, Mário Soares vê-se obrigado a solicitar auxílio
financeiro através do seu Ministro das Finanças – Ernâni Lopes.
Assim, com esta realidade que não
tenta desresponsabilizar ninguém, pretende-se apenas repor a verdade face aos “esquecimentos
convenientes” da história e, por esse motivo, seria bom que PSD e CDS reconhecessem
as suas responsabilidades nos tais “governos da bancarrota” com pessoas como
Rui Machete e Mota Pinto (vices PM), João de Deus Pinheiro, Sá Machado,
Ferreira do Amaral, Álvaro Barreto, etc.
Nelson Oliveira
in: Verdadeiro Olhar