Luís Cunha |
Vamos lá ver como tudo isto começou. Como sabemos a Europa até à segunda grande guerra esteve frequentemente em conflito interno. Romanos, Vikings, Muçulmanos, Franceses e os Alemães, por duas vezes, tentaram “unificar” um continente desunido por natureza populacional e ideológica. Depois da segunda guerra mundial, alguns países reparam que estes conflitos não traziam benefícios, e fundaram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço em 1951 (o Reino Unido não fazia parte desta estrutura). Mesmo assim, quase todos os países tinham as suas próprias leis económicas e leis de migração, o que dificultava o estabelecimento de relações comerciais entre eles. De uma forma muito simplista, a União Europeia veio eliminar estes entraves, permitindo uma livre circulação de pessoas e bens.
Segundo relatos de cidadãos britânicos que todos os dias chegam à imprensa, a imigração é a principal causa deste referendo, e a forma a travar esta imigração é voltar a ter as suas próprias regras, ou seja, sair da UE. Espanta-me ser este facto uma preocupação da maioria (51,8%) de um país que nos últimos 400 anos colonizou meio mundo e que cresceu à custa desses seus emigrantes.
Na minha ótica, as perspectivas futuras deste país é que não são as melhores. Resultados estatísticos recentes indicam que cerca de 75% dos jovens entre os 18 e 24 anos votaram para ficar, e que cerca de 56% e 62% dos votantes, da Irlanda do Norte e da Escócia respectivamente, também votaram para a permanência na UE. O Reino Unido está fraturado, mas, como país soberano que é, demonstrou com toda a legitimidade que quer sair da UE. Bem, não sei se é assim tão legítimo... Muitos britânicos têm vindo a demonstrar o arrependimento por terem votado na saída, pois não sabiam bem das consequências que este Brexit terá para o país. Resultado disso é a nova petição que circula e que tem como fim a realização de um novo referendo. Contudo, penso que com a apresentação da demissão de David Cameron, o Reino Unido atingiu o ponto de “no return”, acreditando eu que esta não é uma decisão irrevogável, ao estilo de Paulo Portas.
De qualquer das formas, não há necessidade para muitos alarmes. Os britânicos, para além de terem a rainha Isabel II, têm também consigo duas outras grandes personalidades. Uma delas é Nigel Farage, o homem por detrás de toda a campanha, que conseguiu “ganhar sem ter sido disparada uma única bala”. Palavras dele, uma semana depois de Jo Cox, uma deputada pró-europa, ter sido morta a tiro por um alegado defensor do Brexit. A outra é o conservador Boris Johnson, um homem perito nas gafes, que compara as intenções da UE às de Hitler ou de Napoleão.
Sem mais sarcasmo, podemos tirar várias lições inerentes ao Brexit. Uma delas é relativa a algo cada vez mais comum que designo de “votar por votar”. Todos os votos fazem a diferença, e por isso devemos estar conscientes de tudo. O Brexit pode trazer consigo tempos em que, na Europa, se realizarão muitos referendos com o mesmo tema, e por isso devemos estar bem informados e evitar ir com a opinião da maioria, ou então votar porque achamos que não iremos fazer a diferença. Vivemos em democracia, e por isso o nosso país é o que nós fazemos dele. Somos todos responsáveis!
Luis Cunha
JS Lousada
in: TVS