Enquanto Portugal se entretinha com as palavras de Mariana Mortágua sobre o significado de “acumular” dinheiro, era apresentado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) um “estudo relativo à evolução das desigualdades e da pobreza no período da crise”.
Sei bem que este é um tema chato e nada convidativo para a normalíssima guerrilha política que se instala diariamente nas televisões e nas redes sociais, em que de um lado parecem estar os bons e do outro os maus, mas este estudo, que pouca gente quis ler e que pouca comunicação social quis noticiar, destrói alguns argumentos que no passado eram verdades inquestionáveis.
Segundo o Expresso, no passado dizia-se que os pobres foram os menos afetados pela crise uma vez que os cortes os tinham protegido. Nada mais falso. Aliás, segundo a FFMS “se em 2010 havia 400 mil beneficiários do rendimento social de inserção, em 2014 eram metade” – em plena crise.
Perante isto, o que fazem os partidos? Envolvem-se em trocas de argumentos acerca da culpabilidade desta situação e nada se resolve. A conclusão é óbvia – a culpa é de todos.
Tal como Sérgio Figueiredo (DN) afirma sobre as desigualdades sociais e passo a citar: “Pior nos últimos anos. Consequência de todos os outros. Gerações de políticos, governos após governos, vacas gordas, vacas magras, os partidos sempre os mesmos, ninguém explicou o que era a responsabilidade financeira. Será arrogante pensar que ninguém percebeu? Direita, esquerda. Não há volver, porque foi sempre em frente: qual ideologia, qual carapuça! Gastou-se o que não havia, os impostos até ao limite, foram há muito para além dele, e que raio de país este!”.
E num tempo em que se mantém discussões ridículas como aqueles que querem fazer crer que ter 500 mil euros de património é facilmente possível a qualquer pessoa da classe média (salvo raras exceções derivadas de heranças ou outras), também não é menos verdade que este país tem que estabilizar de uma vez por todas a carga fiscal aplicada aos cidadãos para que se gere confiança nas instituições e no país.
Numa altura em que nos altos responsáveis partidários deixou praticamente de existir quem seja ponderado ideologicamente, vemos um PSD encostado à extrema-direita e um PS muitas vezes a reboque da extrema-esquerda.
É que quanto à ideologia, continuarei sempre a pugnar por uma social-democracia de centro esquerda. Um socialismo democrático que protege os mais pobres mas não hostiliza os mais ricos e promove o crescimento da classe média, tentando atingir um equilíbrio.
Nos dias de hoje, faz falta a muita gente, ler um bocadinho Willy Brandt, Olof Palme, Churchill e até Soares e Sá Carneiro. É que pelo menos não sou contra os ricos nem quero acabar com os ricos. Quero que existam muitos, com mais sucesso empresarial, que empreguem muita gente e paguem salários cada vez melhores, para que a sociedade evolua e para que a riqueza possa ser distribuída. Pode ser um mero lirismo. Pode ser algo inatingível, mas é isso que se pretende num ponto de equilíbrio ótimo. O ideal é acabar com a pobreza e diminuir drasticamente o número de pobres, ajudando-os a saírem dessa situação, num sistema equitativo e com iguais oportunidades, mas que premeie o mérito, a iniciativa e não castigue sempre os mesmos. Será assim tão difícil?
Nelson Oliveira
in: TVS