O debate que António Costa venceu de forma estrondosa

Qualquer que seja o ângulo por onde se analise o debate entre Passos Coelho e António Costa, a conclusão é inequívoca. Costa foi melhor que Passos em todos os aspectos: na afirmação das propostas para governar o país e na discussão de políticas concretas como o desemprego jovem, a segurança social ou a saúde. Mas onde António Costa surpreendeu foi no vigor e acutilância com que desmontou a “mistificação da troika” em 2011 e como assumiu “todas as suas responsabilidades” “desde o primeiro dia do governo de Mário Soares até ao último de José Sócrates”. Costa destruiu assim um dos últimos “trunfos” da direita que o acusava de ele nunca se ter “demarcado” dos governos de Sócrates. Pois Costa veio dizer que assume “os erros, o que foi bem feito e o que foi menos bem feito” e “corrigiu os erros”.


Costa começou logo por marcar a agenda do debate obrigando Passos a colocar-se à defesa, invertendo assim a situação em que o governo e os seus apoiantes o colocaram a ele quando teve a “ousadia” de apresentar um programa macro-económico com contas feitas.

Passos Coelho ficou longe do orador fluente que costumamos ver na televisão nos congressos do PSD e nas cerimónias oficiais, onde é ouvido com reverência e sem contraditório. Costa desmontou sistematicamente os “sucessos” do governo, deixando-o várias vezes sem discurso.

Mas o pior de Passos foi a insistência em chamar Sócrates para o debate. Isso permitiu a Costa um momento de humor, quando lhe disse que percebia que ele “tenha saudades de debater com Sócrates” mas que era com ele, Costa, que teria de se defrontar. E permitiu a todos os que viam o debate perceberem que a coligação aproveita, hipocritamente (como Portas fizera no debate com Catarina Martins), a situação judicial de Sócrates para usar o seu nome.

Do ponto de vista formal, se as televisões tivessem escolhido entre si apenas um moderador talvez o debate tivesse fluído melhor mas, ainda assim, os jornalistas conseguiram controlar as evidentes dificuldades de um debate com gente a mais: 3 jornalistas para dois candidatos.

Tenha ou não efeitos no voto dos portugueses, este debate recolocou António Costa no lugar que lhe é devido: um político com ideias sólidas, muito bem preparado em todos os temas da governação, abordando com rigor e seriedade as questões mais difíceis, humano e com sentido de humor, implacável sempre que é preciso sê-lo.

Estrela Serrano (Vai e Vem)