
Felizmente, o tal Governo foi, dois anos após o horrífico momento, substituído, sendo instituída uma nova ordem ética. Nesta, nunca há motivo para pedir desculpa, quanto mais para demissão (quem porventura se demita fá-lo por ética a mais: não aguenta "a podridão").
Por exemplo, se um ministro dá uma entrevista à rádio oficial de outro país em que aceita falar sobre processos judiciais "contra altas figuras do Estado" desse país, garantindo consistirem esses processos (que, adverte, pesaroso, "não está na nossa mão evitar" e pelos quais "pedimos diplomaticamente desculpa"), em "um problema puramente técnico de preenchimento de alguns documentos" que, explica, é preciso preencher quando há movimentação de capitais - "lícitas", apressa-se a frisar -, "nada de grave" há a assinalar, segundo o PM, ou que leve o atual PR dar nota de qualquer indignação. Nem o facto de os processos em causa estarem em segredo de justiça e o ministro se aprestar a revelar aquilo em que consistem (cometendo o crime de violação do segredo de justiça, se o que diz é verdade, ou mentindo, se não é) e em garantir que não têm "nenhum grau de gravidade". Tão-pouco que o ministro assevere terem sido "pedidas" "informações" à PGR para "perceber o que é que aconteceu do lado do nosso Ministério Público", as quais "a senhora procuradora-geral deu", enquanto a procuradora garante nada lhe ter sido pedido e nada ter dito, chamando, portanto, mentiroso ao ministro (ou o ministro a ela, é escolher) - que por sua vez nega o pedido e o que disse.
Não; grave, de ir às lágrimas, é o "assassinato político" de que o pobre ministro se queixou no Parlamento. Grave é, nas imortais palavras do deputado Rodrigues do PSD, chamar mentira a "uma inverdade" (que antes fora "incorreção factual"). Grave é fazer corninhos. Cornões mesmo chifrudos, dos que humilham o País e a democracia, arrastam a justiça na lama e fazem da separação de poderes uma piada, oh, isso?, é "uma expressão menos feliz".
Ocorre, porém, um quesito: se os processos que o ministro mandou arquivar por entrevista forem mesmo arquivados, como fica a cara da PGR? E se avançarem para acusação, como fica a do Governo e a relação com Angola? Os cornos chegam para todos.
Não; grave, de ir às lágrimas, é o "assassinato político" de que o pobre ministro se queixou no Parlamento. Grave é, nas imortais palavras do deputado Rodrigues do PSD, chamar mentira a "uma inverdade" (que antes fora "incorreção factual"). Grave é fazer corninhos. Cornões mesmo chifrudos, dos que humilham o País e a democracia, arrastam a justiça na lama e fazem da separação de poderes uma piada, oh, isso?, é "uma expressão menos feliz".
Ocorre, porém, um quesito: se os processos que o ministro mandou arquivar por entrevista forem mesmo arquivados, como fica a cara da PGR? E se avançarem para acusação, como fica a do Governo e a relação com Angola? Os cornos chegam para todos.
Fernanda Câncio (DN)